domingo, 3 de dezembro de 2017

Tirando o Óculos Cor de Rose*

Circulo de Mulheres

Quando na década de 90 fui designada a dar os seminários sobre Anima e Animus no Instituto Junguiano onde fiz minha formação e neste momento lidava com os jovens alunos, me deparei ao preparar o material sobre a Anima - a alma masculina, com várias sombras femininas, com as minhas próprias sombras.

Pois então... foi uma assombração só!!! rsrsrs...  Acho que nunca trabalhei minha alma tão intensamente!
Comecei naturalmente pela infância e adolescência, revisitando momentos e situações onde detectava possíveis traumas ou pelo menos "saias justas", embaraços e vergonhas que podiam ter me deixado sequelas ainda vivas e atuantes.

Lembro agora de uma situação no início do 'ginásio' , hoje, primeiro grau, em que eu devia ter uns doze anos, que houve um racha entre as meninas, devido a briga das duas líderes da turma. Tornou-se obrigatório a escolha de um partido. Dado que eu achava tudo isso muuuuuuito ridículo não escolhi partido nenhum e por isso fui defenestrada por todas as meninas.

Não tive dúvida: me mudei da primeira fila de cadeiras da sala prá última, onde ficavam só meninos.
Ahhhh! E que alegria!!! Achei a minha turma, sem frescura, sem bobeira, sem caras e bocas e principalmente, falsas performances para agradar gregos e troianos.

Dali prá frente vivi os melhores anos do colégio, sempre em companhia dos meus fiéis escudeiros. E apesar de toda a bagunça e conversa reinante na "galeria" continuei sendo a "cdf" de sempre, até salvando alguns amigos, estudando com eles nas provas finais e recuperações.

Com isso desenvolvi uma facilidade muito grande em tratar com o gênero masculino, até porque também tive uma educação baseada na pedagogia de A S Neill - Liberdade sem Medo, uma das "sacadas mais brilhantes" da minha mãe. O educador escocês, A S Neill, defendia o fim da hierarquia e da rigidez como meio de formar indivíduos livres e criativos. Cresci sendo vista como pessoa, como um indivíduo íntegro, e respeitada pelos meus pais como tal. Minha palavra sempre teve crédito e como membro da família meu voto pesava como o de todos os adultos mesmo na tenra infância.

Esta situação tão positiva com o sexo masculino também me fez ver e crescer com uma visão mais ampla tanto dos homens quanto das mulheres. Vocês já perceberam como muitas mulheres (devido a traumas ou mesmo pela educação que tiveram) pelo menos nascidas na década de 60, tem literalmente medo dos homens ou os vêm de uma forma fantasiosa como seus salvadores? De Príncipe encantado a Fera (da Bela....rsrsrs) ou Barba Azul?



Pois é....durante um bom tempo prá mim foi muito mais fácil frequentar grupos de homens (até dos amigos dos meus namorados) e só comecei a lidar com círculos de mulheres já dando aulas sobre o Animus - a alma feminina, quando me abri pra acolher as diferenças e idiossincrasias das mulheres com todos os seus altos e baixos, fragilidades e forças, bobeiras e sabedorias

Bem, mas a esta altura já tinha crescido em mim uma enorme dose de paciência, tolerância e generosidade amorosa, e a Mãe Divina na sua infinita sabedoria tinha me dado três filhos homens, pois só depois do nascimento do caçula é que cai de boca no meu interior e fui mergulhar no mundo feminino, realizando oficinas sobre o feminino a partir de 1994 até os dias atuais. Tirando ou melhor trocando paulatinamente as lentes, ajustando sempre o foco e discernindo cada vez mais e melhor o que é do Ser Feminino - luz e sombra, o que me é - desse todo - palatável ou não, o que realmente é de mim - Rose*.

Hoje, frequento um grupo de mulheres no Centro de Tradições Nativas Nowa Cumig, onde aprendemos sobre o feminino nas tradições nativas sul e norte americanas e trocamos experiências sobre o feminino visto e desenvolvido ou não em nós; e também um grupo de leitura de mulheres que leem autoras que escrevem sobre mulheres, além das oficinas com temas femininos com vistas ao desenvolvimento da ampla visão das mulheres por si mesmas.


E olhando pra trás percebo como aquele "racha" feminino que me alijou para as "galés" foi fundamental pro meu desenvolvimento, desenvoltura na vida e alegria.

Gracias a la vida!!!

5 comentários:

  1. Pessoa profunda, divertida, corajosa e cândida!
    Que delícia o relato da tua estrada!
    Muito bom te ler sem óculos (ambas)!

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    1. Ô bacana, bom demaaaaaais essa troca de energia aqui!
      Pegue sempre que puder essa estrada e sinta-se em casa!
      Bjkssss no coração :)

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  2. Isto tb aconteceu comigo na escola, mas não por exclusão, por dispersão aos estudos mesmo.
    Acabei migrando lá para o fundo da sala, onde os meninos "tocavam o rebu"! Eles rapidamente me acolheram com o maior carinho e virei a "musa inspiradora do grupo", como a professora de física costumava dizer! rsrsrs...Até expulsa de sala fui ao tentar aliviar a barra deles certa vez! 😁
    Reinava absoluta naquela tribo! Faziam músicas para mim, me "disputavam", me defendiam, pediam conselhos...ríamos muito e até estudávamos juntos para as provas ! Era uma convivência saudável e deliciosa, a ponto de algumas meninas quererem se "achegar" tb, enquanto outras, as das primeiras filas, nos olhavam torto! Eu nem ligava! Sentia-me bem na "turma do bolinha" , especialmente porque aprendi a enxergar sob a ótica masculina; os anseios e a forma diferenciada de ser!

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    1. Olha só que maravilha! Então desde muito cedo vc aprendeu a fazer uma boa limonada (pelo jeito era tipo aquela rosada da "Noviça rebelde") com os limões que vida lhe trouxe?!!

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  3. Que estória linda que eu nem lembrava mais. Adorei! Beijo enorme por ter me dado essa lembrança. Da época que fui Luís Mário Farias.

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