segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Labirinto de Chartres: Espelho do Caminho



por Dazur
 
dazur@free.fr
Tradução por Ana Rita Borges
 
Assim que se entra na catedral de Chartes, bastam alguns passos para se achar frente ao labirinto. Ele está lá, como um desafio a reanimar. À volta, os seus espinhos velam no silêncio da pedra. A rosa no seu centro será o troféu daquele que souber chegar até ela.
Os nossos primeiros passos, após um pequeno desvio, conduzem-nos rapidamente até muito perto da rosa. Somos encorajados por esta promessa de sucesso...
...mas eis que o caminho se afasta e prossegue como as circunvoluções do nosso cérebro. E andamos sobre o lado esquerdo. Hemisfério esquerdo do cérebro: o intelecto. Aquele que calcula, que conta, que raciocina. O caminho atrai-nos. Prosseguimos.
Passamos para a direita e, outra vez, muito rapidamente, aproximamo-nos do centro para daí nos afastarmos.
Hemisfério direito do cérebro: as primeiras experiências psíquicas marcantes, as impressões subjectivas; tomamos consciência de um mundo diferente. Mas logo queremos analisar e regressamos ao hemisfério esquerdo do cérebro.
Procuramos conhecimentos e tentamos fazer a viagem intelectualmente. Depressa inúmeros conceitos, até então desconhecidos, tornam-se familiares. Alguns, não vendo o que mais poderiam aprender, não irão mais longe. E passarão o resto da sua existência a fazer discursos e a explicar a vida aos outros. Estagnação.
Outros atravessarão esta ponte, a conexão entre os dois hemisférios, que é a mais próxima do Oriente. E eles entrarão neste mundo ignorado do intelecto, onde não se pode permanecer senão depois de o ter satisfeito e controlado, fazendo dele uma ferramenta e não mais um obstáculo. Neste mundo novo é então necessário viver e ousar a experiência e vivê-la plenamente. Aqui, o discurso não tem lugar. A hora é de acção: acção-serviço para com a humanidade, assim como, acção-caminhar activa em direcção ao centro do Ser.
Mas o caminho eterniza-se e a rosa é sempre questão... e é uma dupla circunvolução tão longa e tão distante do centro que tudo se torna desencorajamento, não mais intelectual, mas interior, até mesmo físico: a noite obscura do iniciado, onde o vivido perde o seu sentido para além da ideia que se pode fazer dele.
Alguns, ainda, permanecerão lá: decepcionados, cansados, prostrados. Outros extrairão de uma fé sem objecto a coragem de prosseguir. E, reencontrando o eixo de partida, viverão novamente a dúvida num último desvio, como se fosse demasiado simples avançar para o coração. Porque é bem no coração que penetraremos então, na rosa na qual, finalmente, respiraremos o perfume.
Orgulhosos por termos percorrido este longo périplo e por nele termos ultrapassado com sucesso todas as provações, acreditamos ter chegado, ao passo que, por esta análise simples, criamos de todas as peças, os mais subtis e os mais perigosos dos obstáculos do caminho. Acreditando ter conquistado a rosa, estamos na realidade enclausurados no centro da nossa Satisfação, por termos controlado os nossos dois hemisférios e por termos avançado, com coragem, até ao fim do caminho.
Se nos deixarmos ficar, viveremos cativos na ilusão de sermos livres. O nosso orgulho terá, então, todo o tempo para se exprimir. É preciso sair e continuar, porque o coração do santuário não é aqui. Mas será necessário refazer todo este caminho e abandonar o labirinto pelo Oeste, em direcção ao pôr do Sol? Como uma derrota com o gosto amargo do esforço inútil? Antes de tornar a partir, desfrutamos ainda deste local e é ajoelhados que oramos o resto da noite, para que a luz apareça de novo por entre as nossas trevas. Então, se o nosso coração é puro nesta demanda, com os primeiros raios do Sol nascente, a Luz surge finalmente.
Levantamos os olhos banhados de lágrimas de Profunda Alegria e andamos em frente, em direcção à luz  do Oriente, sem ver mais nenhum dos muros do labirinto.
Atravessamo-los de qualquer modo, tomando consciência que eles não são mais do que linhas desenhadas por terra: labirinto ilusório do nosso mental e da nossa auto-satisfação.
 
 Livres, desta vez, nós o somos, e avançamos banhados de Luz até ao encontro do Coração verdadeiro, no seio do qual, finalmente, compreendemos plenamente estas palavras: Non nobis, Domine, non nobis, sed Nomini Tuo da Gloriam.
 "Não por nós, Senhor, não por nós, mas pela Glória do Teu Nome.”
Divisa dos Cavaleiros da Ordem do Templo
O desenho da catedral no cimo desta página foi retirado da excelente obra de Michel Neillo “La symphonie symbolique ou les merveilles de la Cathédrale de Chartres" - 1989 - Ed. du Chariot
Poderá consultar este artigo no original em francês em:
 

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